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Trilha Inca: Wiñaywayna – 3º dia

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A alvorada foi às seis horas.  A próxima etapa seria mais tranquila. Teríamos que percorrer 18 km, mas sem subidas e descidas exageradas. A perspectiva de andar tanto, depois dos dois dias que havíamos enfrentado, deveria nos tirar o ânimo. Contudo, já começávamos a entrar no clima, com o corpo agora acostumando-se ao exercício. Além disso, a energia da cidade sagrada já podia ser sentida de uma maneira quase concreta e isso se refletia no comportamento de cada um, que começava a mudar, adquirindo um tom solene e silencioso. Assim, seguimos adiante com a certeza de que a aventura valeria a pena e seria inesquecível. Em 15 minutos, avistamos algumas lagoas, a 3.900m, e as ruínas de Runkurrakay, um conjunto amuralhado com nichos, que possivelmente teria sido um posto de vigilância ou um alojamento. A construção era de pequeno porte, mas de conformação sólida. A impressão de segurança era reforçada pela grossa espessura das paredes e a arquitetura simples fazia supor que ali não houvesse qualquer santuário oculto. Desse ponto, olhando-se para trás, avistava-se o monte Santa Teresa.

Nesse dia, choveu pouco, o que serviu para acentuar o cheiro de mato e flores ao redor. O sol abriu, mas não esquentou muito. De Runkurrakay em diante, a paisagem pintou-se de verde. Tínhamos a impressão de estar procurando uma espécie de esconderijo. Não havia subidas; pelo contrário, descíamos quase o tempo todo. Duas horas depois, apareceu a cidadela de Sayacmarca, a 3.569m, conjunto arquitetônico pré-hispânico, em que as construções ficavam dispostas em planos diferentes, inclusive os pátios e as fontes ligadas a canais que conduziam água sagrada. Um muro protegia a periferia. Esse centro sacro foi batizado pelo descobridor Hiram Bingham de Cedrobamba, devido à grande quantidade de cedros nas cercanias. Para chegar lá, foi necessário subir uma escadaria de pedra próxima às muralhas. Havia espaço suficiente para acampar e o visual era magnífico.

Estávamos perto da hora do almoço. Invejei o preparo físico das equipes de apoio, os porters. Passaram diversas vezes por nós. Quase corriam, enquanto mal conseguíamos andar. O segredo era que estavam adaptados às alturas, possuíam o tórax mais desenvolvido, maior volume de sangue circulando e maior quantidade de glóbulos vermelhos, o que lhes assegurava uma oxigenação perfeita. O movimento tornara-se intenso. Mais e mais turistas-peregrinos cruzavam nosso caminho. Eram chilenos, argentinos, americanos, japoneses e europeus de todos os cantos, reforçando a tese de que no mundo inteiro, a todo momento, inúmeras pessoas recebem o misterioso chamado para ir até a cidade sagrada. Viajavam em grupo, como nós, ou arriscavam fazer a trilha sozinhos, o que é comum.

No almoço, serviram-nos pipocas e arroz chifa, uma mistura de arroz, bacon, ervilha, cenoura e salsicha. O sabor era bastante agradável, tanto pela comida como pela beleza do lugar. Senti-me num piquenique típico, sentado ao lado dos companheiros em volta de uma toalha azul, na beira de um platô defronte a um vale verde e amplo. Enquanto brincávamos uns com os outros, comíamos pipoca. O clima estava gostoso. A emoção era mais profunda. Enfim, estávamos prestes a realizar o sonho comum que motivara o grupo a enfrentar tantas situações hostis: Machu Picchu aproximava-se.

No reinício da caminhada, resolvi dar uma de pole position.. O chão agora era pavimentado com pedras e assim seria até Machu Picchu. O trabalho fora feito à época dos incas e mantinha-se em perfeito estado de conservação. Flores vermelhas e amarelas misturavam-se ao verde, e animais silvestres ajudavam a compor o cenário maravilhoso. Entramos numa caverna cuja formação rochosa provocava eco e brincamos de assombração. Quando estávamos num aposento bem escuro, imitei risada de bruxa, aproveitando a história das feiticeiras incas, contada no dia anterior. No entanto, era cada vez mais forte a sensação estranha, indecifrável, que se apoderava de mim. Ali, a natureza parecia ter colaborado com os incas. A vegetação dos dois lados da trilha tratava de encobrir o trajeto, como se quisesse protegê-los, escondendo-os de possíveis intrusos.

Passamos pelas ruínas de Phuyupatamarca, a 3.495m de altitude. Eram as mais completas e bem conservadas de todo o caminho. Não se conhece a função específica desses prédios. Sabe-se apenas que havia quatro setores: o agrícola, o religioso, o das águas e o de habitação. À nossa frente, outra descida íngreme a enfrentar, aparentando ter mais de mil degraus. Sandra desceu primeiro, porque meus joelhos estavam gritando de dor.

No fim, três quilômetros percorridos e alcançávamos o acampamento Wiñay Wayna (“mulher jovem”), a 2.700m de altitude, um galpão de dimensões avantajadas, que servia de albergue. Era permitido acampar do lado de fora ou podia-se pagar uma taxa simbólica e dormir lá dentro no sleeping bag. Havia um restaurante, onde se vendia um artigo especial que povoava há dias os sonhos da maioria: cerveja. Não aguentava mais tomar mate de coca. Encontrei uma das maravilhas do mundo moderno: banheiros. A água quente tinha hora certa para sair; o resto do tempo ela vinha gelada como descia da montanha. Apesar das limitações, a perspectiva de um bom banho e de uma boa cerveja deixou todos animados. Naquela noite, eram cerca de noventa os hóspedes. Acordaria no dia seguinte e conheceria a cidade Sagrada do Incas, a minha desejada Machu Picchu.

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