Finalmente, cheguei a Glenrio, na divisa entre o Texas é o Novo México. O nome é uma combinação inusitada da palavra glen, vale estreito em inglês, com a espanhola rio. Fundada em 1903, quando a Companhia Ferroviária Rock Island construiu um canteiro de obras no local, atualmente Glenrio está praticamente deserta e deve ter não mais do que uma dúzia de habitantes. O único motel tem um nome curioso: First in Texas/Last in Texas.
Muitos prédios foram derrubados para a construção da Interstate 40. Mas, particularmente essa divisa que eu estava atravessando agora tem uma história bastante triste para contar, que teve seu momento mais agudo durante a década de 1930: o Dust Bowl, ao qual venho me referindo com insistência nos capítulos anteriores. Nos dias 10 e 11 de maio de 1934, uma violenta tempestade de areia varreu os solos do Texas, Oklahoma, Kansas, Arkansas e Colorado. Para suportar a poeira, os habitantes tiveram que colocar toalhas molhadas nas janelas e todos, adultos e crianças, viram-se obrigados a cobrir ou ter o rosto coberto com panos também molhados.
No dia seguinte, estava tudo vermelho, vermelho de sujeira, de terra, de areia. O vento soprava forte e levantava espessas nuvens vermelhas, de tal forma que as pessoas não conseguiam sequer ver o sol. As luzes das cidades tinham que permanecer sempre acesas, como se uma chuva forte estivesse chegando. As tempestades tornaram-se freqüentes e um verdadeiro pesadelo para algumas famílias. Antigos pequenos fazendeiros, que já haviam sofrido com a pobreza, perdido a terra e eram apenas trabalhadores a serviço de outros, viram afinal esgotarem-se todos os seus recursos.
Restou-lhes apenas juntar a família e a mobília em qualquer veiculo que tivessem, e partir daquele lugar que parecia amaldiçoado pela natureza. Com eles, levaram também todos os pequenos comerciantes, que viviam em função destas comunidades. Por causa do novelista John Steinbeck e do cineasta John Ford, a US Highway 66 ficou associada à memória da Grande Depressão. O livro As vinhas da ira descreve a viagem de uma família de Oklahoma rumo à Califórnia.
No Texas, era comum então ver pessoas com colchões no teto dos carros vagando pela Route 66. Os migrantes tinham consciência do problema que estavam vivendo. As pessoas chegavam aqui sem um tostão no bolso. Vários proprietários de postos de gasolina combinaram uma maneira de evitar que os okies ficassem abandonados pelo caminho. O dono de um posto colocava gasolina suficiente para que eles chegassem até um determinado lugar, onde o dono do posto local fazia o mesmo. Desta maneira, eles iam levando os migrantes no caminho da Califórnia.
Os anos da Depressão foram muito difíceis, embora alguns negócios tenham conseguido florescer. Numa época em que a vida de famílias inteiras desestruturava-se, a Route 66 representava ainda mais fortemente a esperança por algo melhor adiante. As pessoas juntavam o que tinham e tentavam a sorte ao longo da mother road.
Quando se passa pelas intermináveis planícies texanas, percebe-se com clareza o papel protagonizado pela estrada. Ela ligava áreas que necessitavam de um contato com o resto da civilização para se desenvolverem. Locais perdidos no meio do mapa, voltaram ao anonimato quando a Route 66 foi desativada oficialmente.
No entanto, guardam ainda um trunfo precioso: tornaram-se para sempre personagens da história de um mito, revivido a todo momento por pessoas como eu e tantas outras que entendem que a Route 66 nunca deixará de representar um estilo, uma filosofia de vida, e uma parte fundamental da própria história americana.
Cidade na Route 66 do estado do Texas
Estados que fazem parte da Route 66
Países nas Américas
Argentina | Bolívia | Chile | Curaçao | Estados Unidos | Peru | Uruguai
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